domingo, 16 de outubro de 2011

Horas, dias e meses de caos...um monstro sorrateiro

culpa
Hoje depois de muito ler o e reler os posts antigos do Blog do Alexandre - TDAH -reconstruindo a vida, eu reparei em um pequeno detalhe, mais uma vez eu abandonei algo no meio do caminho, meu blog, minha suposta válvula de escape...ah como eu sou previsível.

Acreditem ou não eu já duvidava da minha capacidade de continuar a escrever por muito tempo, de alguma forma eu me perdi no meio de um mar de confusão e voltei ao meu velho padrão de esquecimento e irresponsabilidade, o que inclui ser irresponsável com tudo, trabalho, mestrado, tratamento, saúde e com os meus amigos e família.

Entre uma notícia familiar complicada, a pressão que eu me coloco e a que recebo para reagir de acordo com meu papel de filha mais velha, pessoa racional e responsável e a vontade de fugir de tudo que me certa, de voltar o tempo, de ser livre e sentir vontade de viver como antes, sair dessa vida rotineira e policiada. Nossa adentrei uma realidade paralela que apenas agora consigo enxergar o tamanho de seu estrago em minha vida.

Minha Yoda (paciente e incrível psicóloga) entrou de licença a maternidade, eu numa onda de auto-confiante, resolvi esperar que ela voltasse para continuarmos com o tratamento comportamental, pois me achei capaz de lidar com alguns meses de organização e disciplina. AH! Mas essas duas palavras são verdadeiros monstros para mim.

Hoje nos posts do Alexandre que inconscientemente vinha evitando ler, me dizendo que estava sem tempo, quando na realidade tenho excesso de tempo, não ando fazendo nada realmente produtivo, eu engatei o automático e esqueci quem eu sou, esqueci todos os progressos, todos os dados, as leituras, esqueci tudo e voltei a estaca zero...tive mais uma recaída, creio  que não será  a última, isso só serve para me lembrar o quanto essa vida de “em recuperação” não dá muito espaço...uma pequena falha, um floco de neve é o começo de uma catástrofe...

De certa forma estou voltando a postar, pois quando o faço sinto-me mais conectada com minha terapia e meu tratamento, incrível esse sentimento de culpa que me tomou e me tirou o sono. Que me fez ler compulsivamente tudo sobre TDAH, pela enésima vez. É como se eu quisesse me falar...”tá vendo como você sempre faz isso?”.

Admito que por muitas vezes esqueci meu tratamento, dormir quando devia estar estudando, escrevendo minha dissertação de mestrado, meus pais, meus amigos, esqueci quem sou, quem me tornei...esqueci de viver...fingi tão bem que me enganei por meses, percebendo apenas hoje o quanto ando em falta comigo...o que fiz comigo???

Cá estou as quatro e vinte da madruga(uma hora a mais pra algumas regiões), percebendo agora, depois de meses que eu praticamente os passei dormindo, não me lembro de nada significativamente produtivo que tenha feito, lembro apenas de um comportamento hedonista e irresponsável, imaturo e inapropriado para esse momento.

Eu fugi. E esqueci de me avisar. Fiz um check out da minha vida e sem perceber destruí tudo que havia feito...agora é recolher o cacos e refazer-se...i guess. Sinto falta de quem cheguei a ser, sinto falta do meu progresso, da minha produtividade, sei que isso é parte da recaída, mas sinto-me um lixo por ter deixado chegar a este ponto. Como fui capaz de tamanha atrocidade e pior eu sou a única culpada.

As vezes por um segundo eu queria ser uma pessoa  “normal”, que das duas uma, ou vive sobriamente uma vida organizada ou chuta o balde e não tá nem vendo. Esse limbo é que me cansa, essa coisa de errar e ter mais consciência do que tudo de que EU sou a causa do meu sofrimento...

Ae vem a vontade de fugir  e esquecer de tudo novamente, mas agora eu consigo ver, voltei a enxergar eu diria que eu tenho que fazer algo, eu tenho que retomar o caminho que estava percorrendo, amanha voltar a organizar meu tratamento, voltar a me obrigar a estudar e escrever minha dissertação...ser o que espero ser...

Ah, o complicado agora é perseguir o objetivo novamente...voltar a vida que gostei de saborear...

Essa musica da Adele expressa tão bem minha dúvida de seguir...eu sei que devemos sempre seguir em frente...mas as vezes eu queria saber o porque disso tudo....

 CHASING PAVEMENTS - ADELE

I've made up my mind, don't need to think it over
If I'm wrong I am right, don't need to look no further
This ain't lust, I know this is love

But if I tell the world, I'll never say enough
'Cause it was not said to you
And that's exactly what I need to do if I'd end up with you

Should I give up or should I just keep chasing pavements
Even if it leads nowhere?
Or would it be a waste even if I knew my place
Should I leave it there?
Should I give up or should I just keep chasing pavements
Even if it leads nowhere?

I build myself up and fly around in circles
Wait then as my heart drops and my back begins to tingle
Finally could this be it?

Should I give up or should I just keep chasing pavements
(From: http://www.elyrics.net/read/a/adele-lyrics/chasing-pavements-lyrics.html)
Even if it leads nowhere?
Or would it be a waste even if I knew my place
Should I leave it there?
Should I give up or should I just keep chasing pavements
Even if it leads nowhere?

Should I give up or should I just keep chasing pavements
Even if it leads nowhere?
Or would it be a waste even if I knew my place
Should I leave it there?
Should I give up or should I just keep on chasing pavements
Should I just keep on chasing pavements?

Should I give up or should I just keep chasing pavements
Even if it leads nowhere?
Or would it be a waste even if I knew my place
Should I leave it there?
Should I give up or should I just keep chasing pavements
Even if it leads nowhere?

terça-feira, 14 de junho de 2011

A VIDA DE UM TDA(H) NÃO TE LEMBRA UMA VIDA DE VÍCIOS?


Estou querendo escrever aqui no blog sobre minhas técnicas para evitar certos erros e comportamentos muito comuns ao longo de minha vida, mas estou ainda a elaborar uma maneira organizada de explicá-las. Devo dizer que minha mente é um pouco bagunçada...but you know what i mean...

Bom hoje eu vou falar sobre uma dúvida que me assombra diariamente, para falar a verdade é algo que está sempre na minha cabeça. Como eu posso me sentir bem com o meu jeito, com quem eu sou e principalmente com as minhas características tão peculiares, quando eu passo todos os meus dias lutando para me adaptar, para amenizar essas características e modificar comportamentos que incomodam os outros?

Estava outro dia conversando com meu Yoda (a minha paciente psicóloga), estava tentando mais uma vez explicar porque eu acho que me expresso tão mal. Eu recentemente escutei de uma pessoa muito querida, também TDA que eu exijo muito das pessoas, não quis discutir, pois eu realmente faço o que for necessário para não discutir com pessoas que eu gosto (sim isso faz parte de toda uma insegurança, pois eu sei que sou muito agressiva quando estou numa briga e não tenho freios, logo prefiro sofrer a brigar e ficar me corroendo de culpa e remorso).

Voltando ao assunto de ser exigente, na realidade eu não exijo nem um décimo dos outros o que eu exijo de mim e o que eu sinto que exigem e esperam de mim. Lendo o Blog do Alexandre me lembro de mim, naturalmente, essa coisa de estarmos sempre esperando mudar, “melhorar” e ser alguém mais responsável. Bom eu me exijo tudo isso e mais, acredito que somos tão acostumados a pensar que nossas atitudes e esquecimentos são errados, que passamos a achá-los criminosos e nos martirizamos por isso.

Quantas pessoas você conhece que se corroem e se machucam, que choram e se espedaçam porque se esqueceram de confirmar uma consulta, ou um endereço ou ainda porque não viram aquele erro de português no seu artigo de 16 páginas? Bom eu sou assim, eu sinto como se não houvesse mais espaço para erros, como se eu tivesse essa dívida enorme comigo, com a minha família e com o resto do planeta, dívida essa que eu estou longe de pagar...

Eu costumo dizer que hoje me sinto mais sensível as dificuldades de um viciado, o que se deve em grande parte a maneira como eu me enxergo. Acordo todos os dias pensando que não posso errar, esquecer, ser agressiva e blá blá blá...sinto como se o TDAH fosse um vício, afinal não tem cura, estamos constantemente em recuperação e vez por outra temos uma recaída que nos destrói e nos desafia a nos reerguermos.  Você não acha parecido com um vicio qualquer?

Eu exijo dos outros educação, não espero compreensão (queria, mas não espero e não culpo quem não me entende, afinal eu sou parte de uma minoria), não espero paciência, lealdade, mas espero educação e civilidade, bom senso, enfim coisas que considero essenciais e que infelizmente são pouco valorizadas no nosso país. Poxa mas porque falar isso? Então fui chamada de exigente porque me frustrei com uma pessoa que marcou de me pegar para resolver umas coisas que essa outra pessoa TDA que me chamou de exigente, e a pessoa que me avisou que chegaria em 15 minutos, demorou uma hora. Por que eu não posso me chatear com isso? Eu não briguei, não discuti, não fiz nada, apenas fiquei chateada, pois eu jamais faria isso com alguém. Se por isso sou uma pessoa melhor ou pior não sei. Sei apenas que tenho muito que melhorar e essa devo confessar não é uma prioridade.

Quando você se critica tanto é muito complicado não sofrer com as criticas alheias, aquelas que te apontam exatamente o que você mais tem raiva em você, aquilo que você ainda não aprendeu a controlar ou aceitar. Essas me doem mais, me fazer refletir mais e me marcam mais. São positivas? Para mim não. Sinto como pequenos cortes feitos na minha frágil carcaça de autoconfiante.

Falar sobre como eu me acho inteligente, rápida e etc, não mostrar o quanto eu sofro com os meus erros, o quão difícil é controlar os meus impulsos, a dificuldade de não me desfazer em lágrimas de ódio toda vez que tenho uma “recaída” ou que quebro minhas regras. Viver assim é difícil e exige muita resiliência, ainda estou descobrindo até onde eu agüento ir, até que ponto posso me desdobrar para fazer as coisas da maneira “correta”, mas devo confessar que tem dias onde a vontade é chutar o balde, gritar com as pessoas o quão ridículo é você criticar uma pessoas que tenta tanto sem ao menos saber o que se passa com ela.

Se dizer isso me faz uma vítima, se parece que eu uso o meu TDAH como desculpa, ah meu caro, não é verdade, bem que em determinadas situações poderia, mas não me permito na maioria, então se eu o faço me deixe quieto. Permita-me ter o que você tem, espaço para frustração ou chateação. Eu não sou obrigada a ser sempre uma pessoa alegre e estar sempre fazendo piada com meus defeitos. Eu tenho o direito de me chatear quando me vejo cair em armadilhas tão conhecidas.

Sofrer é parte da recuperação, lutar e se machucar, sorrir e ter sucesso, cair e falhar, tudo isso é parte dessa nossa constante briga com nós mesmos. O importante é que depois de ficarmos com raiva, de nos culparmos, nós tenhamos a coragem e a persistência de continuar seguindo o tratamento e o caminho que é melhor para nós. No fundo às vezes é necessário apertar o Ctrl + F (eu sei que é mais fácil falar que fazer!) e ignorar o que os outros dizem, mas é fundamental fazer isso com essa culpa que nos atormenta também. Às vezes somos nós que precisamos ser calados.

Bom...esse post foi um tanto sem sentido, mas quer saber? Eu estava a fim de falar algo sem sentido. Em breve, mas muito breve mesmo vou escrever sobre as minhas táticas para melhorar minha atenção e lidar com os compromissos diários e eventuais.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

DISTRAÇÃO PODE VIRAR FRUSTAÇÃO...PARA OS OUTROS E EM ESPECIAL PARA VOCÊ

Quem me vê falando da minha “leseira” da minha falta de atenção, fazendo piada com essa característica tão acentuadas em mim, pode acabar achando que isso não me afeta, que falo exagerando ou ainda que uso como desculpa quando esqueço algo. Mas a verdade é que nunca uso essa desculpa quando esqueço algo, pois me policio para não cair nessa mania. Ao me ouvir fazendo piada e rindo, não se engane, aquilo é mais uma tentativa de não deixar os outros apontarem, é como se eu preferisse tomar a iniciativa, prefiro eu mesma falar a ter de ouvir mais uma vez das outras pessoas “super atentas” desse mundo. Sei que a grande maioria não fala por maldade, mas não posso evitar, essa é minha Ferida aberta, minha cicatriz não cicatrizada, meu ponto fraco...

Enfim porque começar esse post assim? Ora...porque acontece comigo e com quase todo TDA(H)! Estava eu conversando com uma querida amiga outro dia e ela me dizia o quanto estava chateada, pois mais uma vez havia se esquecido de tirar o seu telefone do silencioso depois que acabara sua aula, assim no silencio abafado por sua bolsa ele permaneceu todo o dia, seu marido e seu filho tinham ligado inúmeras vezes, por razões importantes e sem sucesso sentiram-se prejudicados por essa “distração”. Ela ficara desolada, sua voz emitia uma sensação de tristeza somada a culpa quando falava comigo ao telefone, eu brincava e tentava animá-la, tentava transformar aquilo em mais uma coisinha engraçada típica de pessoas como nós.
Na realidade o que ela sentia, é um sentimento tão comum e quase diário em minha vida, essas distrações são inevitáveis, sempre me esqueço de algo, o problema é quando essa “falha” acaba prejudicando os outros, as pessoas que convivem ao nosso redor. Esquecer compromissos, aniversários, datas importantes em geral, telefones no silencioso, encomendas, de pagar contas, ligar para alguém, marcar ou mesmo ir a uma consulta médica, isso acontece uma vez ou outra com todo ser humano né?! Mas e quando isso sempre acontece? Quando é um fato recorrente?

As pessoas que estão envolvidas podem desculpar no começo ou quando acontece apenas uma vez, pois todo mundo erra, mas a medida que convivem com alguém que sempre “apronta” esse tipo de coisa, tendem a ficar frustrados, chateados ou até mesmo magoados. Infelizmente é um preço que se paga ao conviver com o TDA(H)! O que as pessoas não percebem é que quem mais sofre com isso somos nós, ninguém se frustra e se chateia tanto quanto nós. Pois temos consciência de que aquilo foi nossa culpa. Tanta culpa criar alguns medos, pode se tornar uma tristeza, pode virar complexo. É algo difícil lidar com esse sentimento de que volta e meia você vacila e atrapalha algo ou alguém.

Eu já esqueci o aniversário da minha mãe e de quase todos os meus amigos, esqueço com freqüência consultas ou reuniões que não são rotineiras, já faltei ao trabalho, pois era algo extraordinário e não cotidiano. Já esqueci aniversário de namoro...não vou nem falar da dificuldade que isso trás para um relacionamento a dois, pois seria todo um outro post. O fato de esquecer horários pode se tornar uma armadilha fazendo com que você se torne uma pessoa pontualmente atrasada como eu. Preciso acordar bem mais cedo (digo muito mesmo) porque sempre me atraso, tenho a sensação que meu tempo passa diferente. Sempre acho que dá tempo fazer isso ou aquilo antes da hora de sair, às vezes acho que minha noção de tempo é pior que a de espaço (por isso talvez nunca tenha gostado muito de física, piada sem graça né? Eu sei. #todosignoram).
Aqui confessarei que sofro até por medo de esquecer algo importante, ponho mil alarmes, escrevo no quadro de lembretes (ótima tática para lembrar-se de alguma coisa, farei um post com essas dicas no futuro), peço para e lembrarem, fico com aquilo na cabeça e acabo perdendo o sono ou a tranqüilidade às vezes. Tenho me trabalho para evitar esse sofrimento por antecipação, mas isso vos direi, é reflexo de uma vida repleta de “leseiras” e carões.

Então aqui fica minha humilde opinião...
Sei conviver com um TDA(H) não é uma tarefa ordinária e muito menos simples, que pode causar frustração, chateação, impaciência e raiva, mas lembre-se que provavelmente o TDA(H) é quem mais se chateia com isso, quem mais gostaria de mudar essa característica. Não é desculpa para ser usada e nem precisa ser perdoada, mas não jogue esse fato e todo o resto na cara, isso dói de uma forma inimaginável, trás péssimas lembranças e sentimentos antigos a tona, magoa.

Acho que pontuar o comportamento da vez é algo preciso, mas não diga algo do tipo: “você sempre faz isso!”, “você não se importa, não está nem aí”, “se fosse importante para você garanto que não esqueceria”, acredite o esquecimento nada tem a ver com a importância ou não de um fato...às vezes não teve um fato que desencadeasse (triggered) a memória para aquele acontecimento. Em geral não é algo intencional, não generalize e não pense que a pessoa não considera aquilo algo importante.

Por isso meus caros, a nós cabe o policiamento constante, a busca pela melhora que para mim vem em boa parte do tratamento, tanto a Rita(Lina) quanto a minha psicóloga, enfim a procura incessante por novas técnicas para lembrar os compromissos e as coisas importantes. A quem convive conosco, calma, muita calma, paciência, não precisa guardar para si as frustrações, nos diga, reclame, mas tenha cuidado para não generalizar ou não nos jogar em meio a más lembranças ou grandes feridas.

Para animar um pouco esse post que mais está para desabafo ou pedido de desculpa...vai um pequeno texto de Fernando Pessoa. Se até ele tinha um heterônomo TDA(H), que escreveu um livro a nossa cara, nós também somos capazes de grandes sucessos. A quem interessar procure o “livro do Desassossego” de Fernando Pessoa (em teoria quem escreveu foi seu heterônomo Bernardo Soares). Nessa passagem ele nos conta algo engraçado e muito similar a situações que acontecem com uma freqüência até hilária. Esse livro é uma verdadeira terapia, você se identificará se você é TDA(H), se você não é, bem irá ver como a mente de um funciona e o quão rápido as coisas passam, os sentimentos mudam e a atenção foge...aproveite se puder e quiser ler, vale muito a pena.

" Tudo me interessa e nada me prende. Atendo a tudo sonhando sempre; fixo os mínimos gestos faciais de com quem falo, recolho as entoações milimétricas dos seus dizeres expressos; mas ao ouvi-lo, não o escuto, estou pensando noutra coisa, e o que menos colhi da conversa foi a noção do que nela se disse, da minha parte ou da parte de com quem falei. Assim, muitas vezes, repito a alguém o que já lhe repeti, pergunto-lhe de novo aquilo a que ele já me respondeu; mas posso descrever, em quatro palavras fotográficas, o semblante muscular com que ele disse o que me não lembra, ou a inclinação de ouvir com os olhos com que recebeu a narrativa que me não recordava ter-lhe feito. Sou dois, e ambos têm a distância - irmãos siameses que não estão pegados. " (grifo nosso heim?!)

- Capítulo (?) 10 - Livro do desassossego - Bernardo Soares (Fernando Pessoa)


Até a próxima!

segunda-feira, 25 de abril de 2011

OLÁ, EU SOU ASSIM, TDAH A 24 ANOS, MAS DESCOBRI ANO PASSADO...

Os médicos dizem que nasci assim, bom hoje me dizem isso, mas nos últimos vinte e três anos ninguém se manifestou. Eu me chamo Laís e tenho déficit de atenção e hiperatividade. (a apresentação a la AA foi proposital!) Sofro de uma inquietação permanente, uma mente divergente e uma loucura consciente.

Resolvi criar esse blog porque quando eu precisei eu tive apoio, mas não tive um grupo de apoio, não tinha muitas pessoas com quem pudesse trocar experiências, que entendiam exatamente o que eu passava. Lendo sobre o tema, li muitos depoimentos que me ajudaram, pensei que um espaço para dúvidas e explanações seria bom...vai que ajuda alguém né?!  Trocar idéia com alguém passa por situações similares ou não é sempre algo positivo, ajuda muito. At least for me (pelo menos para mim).

Cresci acreditando ter nascido com dez anos de idade. Deixe-me explicar, nunca me senti a vontade com pessoas da minha idade, sempre me achei meio diferente, assim gostava de ler e desenvolvi uma verdadeira dependência para com a literatura. Sempre me liguei no que passava despercebido por todo mundo e perdia o que era claro par toda a nação. Hoje faço piada, mas no fundo tento mascarar uma mágoa que tenho e uma dúvida que me assombra. Nunca fiz parte, mas será que um dia farei?

Foi assim no meio de uma confusão incessante que fui virando gente. Quero dizer gente louca. Lembro-me desde sempre de ouvir que deveria me controlar, pois era muito impulsiva, que a vida não era assim, que eu não poderia ser assim. Que eu era preguiçosa, pois era inteligente, mas tinha preguiça de estudar. Que era aluna terrorista por conversar a aula inteira, por não prestar atenção. Era muito desorganizada, isso era um crime maior por ser uma menina, mas o que para os outro parece desorganização para mim é essencial. Se as coisas não estão no meu campo de visão elas se perdem num mar de esquecimento.

Se sentir sozinha e incompreendida é uma constante, mesmo sabendo que não posso exigir dos outros que eles sejam iguais a mim, queria respeito. Ser chamada de lesa, bagunceira, revoltada, esquecida, preguiçosa e impulsiva durante toda uma vida, não faz bem a ninguém. As pessoas não percebem o quanto isso é sacrificante para quem não tem tanto controle. Com o passar do tempo você acaba por desenvolver mecanismos (sejam positivos ou negativos) para seguir o fluxo, a normalidade alheia, mas até essa adaptação se torna cansativa. Particularmente tenho épocas de cansaço extremo. O tempo trás maturidade e um pouco de autoconhecimento, mas trás mais responsabilidades e isso acentua algumas características. Foi assim meio sem ter certeza, pois não acreditava de verdade, que acabei indo para uma nova psicóloga (sim, não foi a primeira, afinal eu era tão diferente dos meus irmãos...) e ela me fez esse favor, me deu a explicação que eu não tinha.

Ao saber do diagnóstico, senti um grande alívio, afinal eu não era tão ruim assim, existia uma razão para eu não conseguir ser tão 100% como os outros. Confesso que sou de fato esquecida, hiperativa e conflitante. Mas como disse antes, eu vejo coisas que passam despercebidas, vou (viajando na minha incansável mente) onde outros ditos “normais” não vão, sinto tudo mais, minha criatividade vai além...
Saber que tenho TDAH me trouxe uma nova perspectiva, afinal agora eu estou adquirindo ferramentas para lidar com minhas limitações e explorar meus pontos fortes. Aceito melhor quem eu sou, quem eu fui e quem eu posso vir a ser. Hoje, eu me encontro num período de “reabilitação”, é como se estivesse aprendendo a andar novamente, uma nova realidade surgiu, minha qualidade de vida melhorou muito e acredito que isso influencia as minhas relações interpessoais.

Sempre fui conflituosa, mas acredito ser carismática, afinal, as pessoas gostam de mim, às vezes acho que tenho uma imã, apesar de não “gostar” muito de gente, sempre me socializei, mas admito que para mim é bastante trabalhoso ficar tentando diminuir minha velocidade, escutar o que eu já sei que as pessoas vão dizer e acima de tudo ter que explicar como funciona meu raciocínio, pois eu consigo ligar uma assunto que não tem nada a ver com o tema de uma conversa apenas porque uma palavra me fez “viajar”.

Exemplo: estou conversando com uma amiga sobre roupas, ela elogia o tom de amarelo da minha blusa, eu automaticamente me questiono quando vai ser o grand prix de vôlei e se vai ser de madruga, pois é algo ótimo para assistir durant4e noites insones. Como cheguei ai? Bom...eu ouvi amarelo, lembrei da bandeira, que me levou a questionar quando será o próximo jogo da seleção de futebol, ai lembrei que houve um jogo ontem de vôlei da final do brasileiro,  me recordo que assisti o jogador do SESI Murilo dando  entrevista, por fim ele joga na seleção e pensei no grand prix. Entendeu? Sim? Não? Pois a maioria não faz essas conexões estranhas e me sinto compelida a explicar porque no meio da conversa sobre roupas eu perguntei sobre os jogos de vôlei. Explicar-se o tempo todo cansa.

Devo dizer que me considero com sorte, pois minha sorte/teimosia/timing/habilidade de enrrolação e talvez um pouco de inteligência, me carregaram ao longo da vida. Consegui ser uma aluna mediana no colégio. Consegui terminar 9 anos de inglês, 3 de espanhol e 3 de italiano, agora estou a ameaçar estudar francês. Faz alguns anos que me prometi terminar tudo que comecei, fiz tal promessa na tentativa de provar aos outros que eu conseguia terminar algo, afinal todos observavam que sempre desistia das coisas. Talvez essa birra tenha sido a minha salvação...

Fiz uma faculdade de direito que durou 5 anos e meio, achava um tédio e nunca me senti desafiada o suficiente, as vezes acho “o povo” do direito muito limitados a leis, parece que eles não conseguem pensar outside the Box (fora da caixinha). Mas com medo de não ter o que fazer, no último semestre de faculdade resolvi que minhas 7 disciplinas (4 das quais eu não precisa e estava fazendo por curiosidade, pois eram do comércio exterior), a monografia, um pai com câncer e uma fase baladeira, nada disso era o suficiente, resolvi tentar o mestrado na Universidade Federal do Ceará, quem disse que eu conseguia estudar? Cheguei ao cursinho preparatório de ressaca inúmeras vezes, muitas delas “virada” da balada, tinha passado em casa apenas tomar banho e tomar café. Até hoje acho que minhas amigas fizeram um milagre, me passaram informação suficiente para passar aquela prova.

O mestrado foi o que me fez perceber o quanto eu não estava bem, não conseguia assistir aula, notei que estava começando a atrapalhar os meus colegas que me pareciam bem mais interessados, o pior era que as vezes eu queria prestar atenção pois gostava do tema, mas não conseguia...e foi assim que fui buscar a ajuda que transformou e continua a transformar minha vida...um passo de cada vez m né?!
Achei que essa música do Legião Urbana que é bastante usada para esse tema podia inaugurar o blog...acho tão a cara do TDAH...

Composição : Dado Villa-Lobos / Renato Russo / Renato Rocha
Tenho andado distraído,
Impaciente e indeciso
E ainda estou confuso,
Só que agora é diferente:
Estou tão tranqüilo e tão contente.

Quantas chances desperdicei,
Quando o que eu mais queria
Era provar pra todo o mundo
Que eu não precisava
Provar nada pra ninguém?!...
Me fiz em mil pedaços
Pra você juntar
E queria sempre achar
Explicação pro que eu sentia.
Como um anjo caído
Fiz questão de esquecer
Que mentir pra si mesmo
É sempre a pior mentira,
Mas não sou mais
Tão criança a ponto de saber tudo.

Já não me preocupo se eu não sei por que.
Às vezes, o que eu vejo, quase ninguém vê
E eu sei que você sabe, quase sem querer
Que eu vejo o mesmo que você.
Tão correto e tão bonito;
O infinito é realmente
Um dos deuses mais lindos!
Sei que, às vezes, uso
Palavras repetidas,
Mas quais são as palavras
Que nunca são ditas?
Me disseram que você
Estava chorando
E foi então que eu percebi
Como lhe quero tanto.